quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Um novo Estado nacional da economia cultural



Carlos Henrique Machado Freitas 18 fevereiro 2010 8 Comentários

“O velho que preserva sua vitalidade ou que encarna uma tradição ou marca uma presença no tempo continua novo.” Paulo Freire – “Pedagogia da Autonomia” (1996:35). Uma das principais deficiências do pensamento universal é não desconfiar de suas considerações superiores. Na contraposição ao universo da cultura nacional fica evidente a rasteira de província que a má consciência de espírito público lhe confere.
Se os espíritos universalistas estão dispostos a uma contundente abertura de fronteiras, por que se debatem num corporativismo bairrista? Ora, desaparecem as movimentações interplanetárias quando a condição territorial na cultura brasileira é colocada na mesa? O ritmo de expansão atravessa o samba quando o assunto é a democracia geográfica e social em nosso próprio território cultural?
As possibilidades de ações conjuntas não acreditam na integração nacional pela cultura?
O fato é que a produção e regulação que aqui chegaram pelas normas da economia neoliberal de cultura, atendem ao universo especulativo… E nele suas campanas contra a arte brasileira são sustentadas, uma engrenagem venenosa de perspicácia pessimista que, depois de sangrar politicamente o governo, emplaca suas pressões mesquinhas numa secreta teia de exploração e interdependência técnica-financeira na dinâmica cultural brasileira.
A fonte central desse pensamento de reduzida extensão é, na origem, uma ordem da nova seletividade social e, portanto, só permite a globalização cultural do consumo. Como nosso território não é global na cultura do consumo, sobretudo na base social, as áreas pobres, que não são poucas, exigem que a legitimidade neoliberal construa uma lógica artificial e permanente para justificar essa disfunção, “universal de cultura”. Sem base no roda-pé, sem colheitas e sem se impregnar, um pouco que seja de preocupação social, não enriquecerá a nova dimensão exigida de um país moderno e potente que está florescendo.
Num ato claro de autonegação extraída da mentalidade irresponsável do capital de especulação global, o mesmo que produziu a mais recente crise financeira mundial com a política de independência dos bancos centrais, o sistema brasileiro de cultura via Lei Rouanet decalca o mecanismo técnico/político com golpes conceituais para reproduzir a mesma lógica de miséria que o bancarismo imprimiu ao mundo com a globalização financeira.
A distribuição concentrada principalmente nas áreas mais ricas da Capital do estado economicamente mais rico, São Paulo, mostra que a Lei Rouanet tem uma ótica localizada para ser atendida pelo serviço dos agentes culturais da economia neoliberal e oferece seus préstimos ao perverso conceito de “arena ideal de áreas guardiãs de consumo cultural”, uma precária prótese do mercado do entretenimento.
A produção da informação, e o monitoramento do satélite cultural estão em suas mãos e, a partir desses terminais de serviço, uma potente instrumentalizaçã o capitalista se transforma em semente básica do desenvolvimento econômico da cultura neoliberal, formando assim os novos ricos e os novos pobres da cultura brasileira.
A reorganização produtiva nacional da economia cultural não tem como se servir desta articulada e pragmática densidade corporativa que os departamentos de marketing dos grandes grupos econômicos criaram.
A circulação dos recursos públicos, no caso da cultura, nasce com destinação já desenvolvida pelo ponto central do sistema, uma fundada especialização de manipulação da captação e direcionamento da verba para a chamada “economia criativa”, ou seja, sistema de engenharia social hegemônica.
A aglomeração de recursos em determinado ponto das grandes capitais como Rio e São Paulo é a clara observação de que canais foram delicadamente construídos para centrifugar os recursos que deveriam chegar a todas as regiões do Brasil.
Essa geociência é explícita quando se trata da criação e manutenção dos Institutos e Fundações que nascem e crescem nos grandes centros econômicos dentro da chocadeira do próprio conglomerado, vide Itaú Cultural.
Este tipo “cultural” de concentração dos recursos públicos é manifestação complementar de um projeto maior que o capital especulativo tem como gatilho em certa infraestrutura de ampliação dos degraus da hierarquia política, tanto é que tempos atrás o Itaú cultural, indecorosamente, propôs fazer uma auditoria na Funarte, um órgão federal.
Um governo forte fotalece o Estado, a Cultura e a Sociedade. Fortalece a Nação.

“A fase de eclosão do capitalismo moderno é, na verdade, uma fase de transição neocolonial” – Florestan Fernandes. Esta denominação de Florestan Fernandes está dentro do que ele classifica como período da revolução burguesa que promovia um capitalismo dependente no Brasil.
Somente um governo forte como o de Lula pode fortalecer as instituições culturais, oficiais e espontâneas do Brasil. E isso ficou evidente neste último carnaval, que, quando chanceladas pelo Ministério da Cultura do Brasil, através de políticas diretas de valorização as manifestações espontâneas do povo brasileiro ocupam a dinâmica sócio-econômica da cultura, de maneira inédita, todos os espaços públicos a céu aberto, deixando clara à retomada da integração cultural brasileira, um alargamento em escala nacional de novas possibilidades com múltiplas combinações econômicas que saltam aos olhos e devem servir de estímulo às novas reflexões, sobre economia auto-sustentá vel de cultura, pois estas estão na contramão da informação que oferecem os agentes neoliberais da cultura.
A cultura, dentro de um governo forte tem que se fortalecer politicamente. E a grande costura política que ampliou os espaços do Ministério da Cultura no território do poder, sobretudo construindo uma parceria inédita com a Casa Civil de Dilma Rousseff, fato que se deve à sensibilidade e habilidade da atual equipe do Ministério da Cultura, liderada pelo espírito de luta de Juca Ferreira e Manevy.
A constituição da cultura brasileira tem em sua natureza uma soberana e autodidata grade de presença na vida nacional e não está disposta a ser bucha de canhão de um sistema de sublocação de aportes públicos a partir da verticalização exigida pela Lei Rouanet.
E se, em território brasileiro, a abrangência global do sistema Rouanet é nenhuma, porque é alheio às realidades culturais brasileiras, o uso empregado de informação e conhecimento sobre um plano universal, não sai do limite métrico do misticismo científico.
O consumo produtivo em cultura não está associado a lucro, a patês, a produtores e nem a possuidores. Entender a informação a partir da natureza dos negócios da cultura impostos pelo perverso sistema, é enraizar a cultura dos “royalties” das conversões entre sistemas monetários.
A ilusão da universalizaçã o não negligencia nas fronteiras sociais e geográficas, não aceita a desregulação das políticas instauradas pelas classes opulentas e, consequentemente não aceita novas regras que lhe traga perdas de privilégios.
A circulação verdadeiramente frenética da nossa cultura depende de instrumentos que a sociedade já criou e que a revolução da comunicação está contribuindo para a ampliação. O governo forte de Lula que assusta as classes dominantes fortaleceu as bases materiais/simbó licas, possibilitando essa erupção, aí sim, sem fronteiras, universal, a partir das matrizes culturais brasileiras.

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